segunda-feira, 22 de julho de 2013

Entrevista exclusiva com a amazona Karina Johannpeter


 Desde 2010 a amazona gaúcha Karina Harbich Johannpeter está residindo, novamente, na Alemanha. O Jornal do Hipismo foi até Aachen para conversar com a amazona que conta seus objetivos, rotina de treinos e competições e afirma “Para estar no primeiro time do Brasil, tem que estar na Europa".
Karina em Aachen


1) Como foi a mudança do Brasil para Alemanha em 2010?

Como eu já havia morado na Alemanha por dez anos quando era mais jovem, não foi uma grande mudança. Minha mãe, Cristina Harbich, mora aqui, e eu vim com o objetivo de fazer uma preparação para tentar a vaga para a Equipe Brasileira dos jogos Pan- Americanos de Guadalajara em 2011.

2) Como funciona a rotina de treinos e competições?

 Tenho meus cavalos em um manege na cidade de Ibbenbüren, Alemanha, junto com meu namorado Torben Köhlbrandt. Treinamos praticamente todos os dias. Em média participo de duas competições por mês. Claro que isto depende da condição e saúde dos cavalos e também dos convites para os concursos, algo que está cada vez mais difícil aqui na Europa falando em concursos de nível 3 à 5 estrelas.

3) Que cavalos você compete hoje e em quais categorias?

 Tenho o alazão de dez anos, Ruswil, que este ano tem sido meu principal cavalo nas provas de 1m50. Ele está saltando com facilidade os Grandes Prêmios de 2 e 3 estrelas e este ano o objetivo é que ele suba ainda mais de patamar. Ele obteve um bom desempenho em Oliva, no circuito na Espanha onde ficou em 7º lugar no GP. Era com ele que estava previsto de ir saltar o The Best Jump em Maio deste ano. Há semanas atrás ele teve um acidente no caminhão e teve ¾ da língua cortados, mas já está operado e em recuperação. Este foi o motivo pelo qual tive que cancelar minha participação no CSIO Lisboa.
Karina e Ruswil

No ano passado meu principal cavalo foi o Uraquay, tordilho de doze anos que adquiri no início de 2012, e que saltei o Grande Prêmio "Preis of Europe" em Aachen na edição passada. Depois do bom desempenho no GP de quarta em Aachen recebi a convocação para as Olimpíadas de Londres, o que me deixou extremamente feliz, porém somente por algumas horas, pois, na sexta pela manhã, ele (Uraquay), sofreu uma cólica e foi operado.
Ele passou por oito meses parado e só retomou suas atividades inicio deste ano. No momento ainda está saltando somente as provas de 1m45 e deve levar mais um a dois meses para voltar a sua forma anterior. Estou fazendo a recuperação dele com bastante calma, afinal oito meses sem saltar é muito tempo e até a estrutura muscular se recuperar leva certo tempo. Ano passado ele provou que tem plenas condições de enfrentar percursos realmente difíceis, então tenho todo cuidado com este cavalo. Isso que passou ano passado foi bastante duro, mas é assim o nosso esporte, uma hora no auge e horas depois... Mas faz parte! (risos).
Karina e Uraquay em Aachen 2013

 Tenho ainda a DragonFly, égua de dezesseis anos que saltei o Pan-Americano de Guadalajara em 2011. Como é uma égua mais velha e teve uma lesão no tendão após o Pan, compito nas provas de velocidade, de 1m45. Enquanto ela estiver fazendo estas provas com prazer e se classificando, mantenho ela no esporte. Provavelmente ano que vem devo coloca-lá na cria. Ela vai me dizer a hora de parar.
 Assumi agora mais novas montadas, a Skala, égua tordilha de dez anos que o Torben vinha saltando, e ainda uma égua jovem de sete anos, Vanilla, que tenho levado junto nos concursos. É algo bem bacana também sempre ter um cavalo novo se desenvolvendo junto com os cavalos mais experientes. E sempre é uma oportunidade para estes cavalos participarem de concursos de bom nível. Assim quando chegam aos oito ou nove anos já estão bastante experientes para enfrentar a série forte do esporte.
Karina na premiação de Aachen com Vanilla
Karina e DragonFly

Tenho ainda o Urolux. Ele ainda veio comigo do Brasil. Ele é um cavalo com a saúde bastante frágil então passa sempre algum tempo parado. Esta voltando depois de uma parada de seis meses. Ainda não sei se ele vai se recuperar plenamente. Acredito que até Setembro já deve estar competindo nas provas de 1,50m, se tudo der certo.
Karina e Urolux

 4) Conte sobre sua participação no CHIO Aachen deste ano:

 Recebi o convite para participar em Aachen somente duas semanas antes do inicio do concurso. Realmente não esperava o convite. Acredito que o motivo pelo qual consegui a vaga foi a desistência do Rodrigo (Pessoa), que estaria participando de um concurso em Monte Carlo na mesma semana, e talvez também o bom desempenho da minha participação no ano passado. Além disto, acredito que a organização ficou comovida com o que aconteceu com Uraquay, minha entrada na equipe para Londres e um dia depois a cólica. O importante é poder estar fazendo parte de evento hípico incrível.
Fico chateada de participar de um concurso deste nível, onde é muito difícil entrar, não estando com os cavalos 100% na forma como eu gostaria. O Uraquay é um cavalo que tem condições, e já mostrou, de fazer competições deste nível, mas não está em plena forma, ainda faltam um ou dois meses para ele chegar ao nível que estava antes da cólica, e juntou com o azar do acidente do Ruswil da língua e ai, realmente, um concurso deste sem estar com os dois principais cavalos 100% em forma é difícil. Mas até agora a Dragonfly fez seu papel e buscou duas escarapelas. Como diz meu irmão André: “escarapela em Aachen tem valor dobrado”!


5)  Mesmo com o azar dos cavalos não estarem em plenas condições, você aprecia a participação no CHIO Aachen 2013?

 Sem dúvida! Aachen é um sonho que todo cavaleiro tem de participar. Ano passado foi a primeira vez que participei e é uma sensação incrível, acho que todos cavaleiros brasileiros que já passaram por aqui sentem a mesma emoção. O público é muito conhecedor do esporte e vibra junto. É uma honra saltar em Aachen, além de a sensação ser muito especial. É o concurso mais incrível que já participei.

6) Qual o próximo objetivo na carreira atleta agora?

 O grande objetivo é no ano que vem saltar o Mundial pelo Brasil.
Claro que existem várias etapas antes disso. A CBH está tentando fazer, junto ao chefe de equipe Jean Maurice, algumas Copas das Nações, como em Lisboa (Portugal), Bratislava (Eslováquia) em agosto, Arezzo (Itália) em setembro, e encerrando na final da Super Liga em Barcelona, onde dezoito equipes do mundo todo disputam a final. Fico bem contente que o Brasil esteja habilitado a participar desta final e espero poder participar e contribuir para um bom resultado pelo Brasil, caso convocada em alguma das copas que vamos participar, e talvez até da final em Barcelona.

 7)  Para o cavaleiro ou amazona participar destas competições existe um ranking?

  Isto é sempre complicado, pois o ranking da FEI (Federação Eqüestre Internacional) funciona por resultados do cavaleiro/amazona e não por resultados do conjunto. Então o chefe de equipe avalia os conjuntos e indica para participar das competições, e não olha necessariamente o Ranking da FEI que não espelha o resultado por conjunto. 

 8)  Quais são seus sonhos como amazona?

  Tenho vários. E acredito que depois de conquistar alguns deles novos sonhos surgem.
Saltar em Aachen foi um que fico muito feliz em ter conseguido realizar. Outro grande objetivo era depois de participar do Pan em Santo Domingo, onde eu era muito jovem (18 anos) e inexperiente, saltar novamente um Pan. Com a medalha de prata por equipe em Guadalajara esse sonho também se concretizou.
Uma olimpíada pelo Brasil, no Brasil claro que é outro sonho! Porém, somente participar não me bastaria. Tenho o objetivo de, se participar, alcançar um bom resultado pelo Brasil. 

Doda, Karina, Rodrigo e Bernardo em Guadalajara 2011

9) Você pensa em voltar a treinar no Brasil?

  Neste momento com os objetivos que almejo, infelizmente, não.
  Na minha visão, em nível de Pan-Americano, nós temos boas condições de fazer uma preparação no Brasil, mas em nível de Mundial e Olimpíadas é importante passar um longo período aqui na Europa/ EUA. Temos inúmeros exemplos que comprovam isso. Não acho nem que tem somente a ver com a dificuldade das competições entre Brasil, Europa e Estados Unidos, mas muito também com a concorrência. Penso que concorrência forte de bons conjuntos faz-nos crescer e se desenvolver, além da disciplina que o frio europeu exige!


10) Como você enxerga o hipismo no RS hoje?

  No momento é difícil avaliar porque tenho ido pouco, e quando vou passo na hípica para dar “oi” para o pessoal, sem ter um olhar muito voltado para avaliar o esporte no RS. Mas o que eu tenho visto são as melhorias que, às vezes, são mais lentas do que gostaríamos, mas acontecem. Temos uma grande dificuldade no nosso país que são as distâncias e as estradas que, a meu ver, são extremamente desgastantes para os animais. Eu me lembro que quando morava no Brasil, depois do The Best Jump levava meus cavalos para São Paulo e ficava lá até meados de junho, após, retornava para Porto Alegre mais um mês e voltava para São Paulo para mais campeonatos até Outubro, para tentar fugir das viagens. Assim tentava ajustar da melhor maneira para os cavalos.

Deixe um recado para o RS:

  Sinto falta de estar no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. É bom estar aqui, estar participando dos concursos, mas sinto falta de casa. É bom receber pessoas aqui na Europa e saber que estão torcendo e mandando energias positivas para cá.



Canal do Youtube: KarinaJohannpeter

Calendários das provas:

Julho
7 – Villach – Áustria 4* 
14 – Sprangenberg – Alemanha 3* 
21 – Münster – Alemanha 4* 


*Fotos: JH e arquivo pessoal

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